Friday, May 23, 2008

materia da revista Fluir

Ai vai a materia da revista Fluir

A verdade sobre o bodyboarding – por Fred Dorey

Sou contra qualquer tipo de preconceito. Estamos em pleno século 21 e não existe nada mais lamentável do que a discriminação. Tudo bem que já avançamos muito nesse campo, uma vez que mulheres, negros e gays vivem uma situação bem mais confortável do que décadas atrás. Mas tem uma coisinha que continua me incomodando, e muito. Ora, pelo nosso histórico de vida, nós surfistas deveríamos ser liberais na essência e nas ações, mas não é isso o que acontece.

Vamos ser sinceros. Qual de vocês nunca presenciou um comentário maldoso para com um irmão bodyboarder? Quantos de vocês não desejaram que os praticantes desse esporte deitado simplesmente não existisse? Quem não passou horas inventando nomes pejorativos como esponja, tampa de privada, aleijado, pagador de promessas, bolebole, e tantos outros que não convém registrar? Pois bem, chegou a hora de assumir a faceta desprezível de nossa tribo. A hora da verdade. Somos preconceituosos, somos segregacionistas, somos xenófobos. Somos uns seres primitivos, em suma.

E basta olhar em volta. Quantos amigos praticantes desse esporte você tem? É triste, mas surfista anda com surfista e bodyboarder anda com bodyboarder. Não nos misturamos. Isso é ridículo.

E precisa acabar. Somos todos livres para escolher nossos caminhos e ninguém tem nada a ver com isso. Se surfar deitado numa prancha de espuma colorida faz o cara feliz, o problema é dele. Só dele. Ninguém tem que se meter nem ficar falando que o esporte dos bodyboarders deveria ser praticado só pelas meninas, que elas ficam uma graça batendo pesinho no outside, mas que não pega bem pros marmanjos.

Esse pensamento machista é ridículo. Eu já penso o contrário e os acho muito corajosos. Eles poderiam ter escolhido surfar de pé, como todo mundo, mas não, optaram pelo caminho mais difícil, que certamente seria mais discriminado. Escolheram descer deitado. E estão se lixando para zombaria, para as piadinhas preconceituosas. É por isso que admiro esses caras.

E daí que a prancha de bodyboard é bem mais barata? E daí que é bem mais fácil aprender e praticar? E daí que basta descer reto na espuma e não precisa nem ficar em pé? Cada um gosta do que gosta. E veja o caso dos nossos patrícios portugueses, onde a maioria dos caras surfa deitado de bodyboard e as meninas de pé numa prancha de surf. Isso com certeza deve ser um sinal de avanço (mas não me pergunte por quê), uma vez que Portugal fica na Europa e eles são muito mais educados do que nós, selvagens brasileiros.

Arrisco dizer que essa atitude pequena da comunidade do surf em não aceitar os bodyboarders não passa de localismo disfarçado. Nós surfistas temos que entender que os direitos são os mesmos, pouco importa se chegamos primeiro. Por isso, trate de segurar o bico quando seu instinto de bitolado lhe disser para atropelar o cara que vem deitado. Não, ele não vem se arrastando, deixe de ser preconceituoso. Aceite o simples fato de que o que ele está fazendo é surf. Ele está surfando, assim como você. Respire fundo. Respeite as diferenças.

Nessas décadas de surf, quantas não foram as vezes em que me vi sentado no outside ao lado de um bodyboarder. E quantas não foram as vezes em que me vi quase perguntando “por quê”? Por que deitado? Por que meio em pé e meio ajoelhados? E essas voltinhas? Que manobra é essa? Mas graças a Deus me contive, e sozinho entendi que mesmo que o bodyboard não existisse, outra coisa estaria em seu lugar. Graças a dividir o line-up com os praticantes dessa outra modalidade de esporte, fui obrigado a me dominar, fiquei mais racional, menos bicho e me elevei.

É isso. Os bodyboarders obrigam a nós, surfistas, ser pessoas melhores. Toda vez que passa um cara deitado e a galera do surf não rabeia, eu tenho mais fé na humanidade. É sinal de que estamos evoluindo. Por isso, faça um amigo body hoje. Fale oi para o cara. Libere uma onda. Convide-o para uma cerveja. Quem sabe ele não tem uma irmã maneira?

1 comment:

Unknown said...

po soneca...esse fred dorey ja ficou na minha casa no north shore numa guarita da mariana nogueira e do mardio dela o rodolfo.....da insane...ele e gente boa mais nesse texto ai eu acho que ele ta tirando onda......em nunhuma parte ele nos da a moral de ter titulos e droparem as morras como nauqle poster na riptide.....hahahaa.....abcs